21 novembro 2007

Que pensa e sente

Romances se fazem entre toques e palavras. Certos, unem corpos como cola não faria. Antes sentimento, abstração da mente enquanto coração. Quando o tato substitui o intangível, desejo direcionado e material.

Tato em conluio com o vivaz frêmito da alma: paixão. Eis então que é; animal, humana. Humana.

Palavras comensais: sentimentais e racionais. Em festa bacanal no salão cerebral. Humano.

Sentiu meu coração a bater. Sem oportunidade ao controle. Animal. No entanto bateu por sentir - havia aí algo bastante humano.


Ah, o sentimentalismo destruindo projetos... lá se foi a acidez.

24 julho 2007

Pra não falar do Pan

Tanto esporte enfiado pela minha goela, resolvi dar uma caminhada pelo quarteirão. Fui assaltado. Na zona norte temos policiais em dois pontos: Maracanã e Engenhão.

Um pensamento indecente raspou minha cabeça dizendo que o exercício seria ainda melhor se eu corresse atrás do assaltante. Era a coragem, o tônus muscular, a leveza depois da corrida... Tudo misturado num jogo de honra e esportividade.

Desisti logo. Além do mais, ainda tinha um cigarro amassado que o rapaz não quis.

Passei num bar, pedi o isqueiro emprestado e sentei. Fumava tranquilo, certo de que faltavam alguns dias para que todas essas idéias demoníacas de culto ao corpo e movimento me largassem e pudesse curtir sem culpa horas de bunda no sofá e indecência na TV.

O que mais dá saudade é a indecência na TV. Com esse multicampeonato fuleiro tudo quanto é apresentador - ó que eu conheço vocês, hein! - resolveu dar conselho moral e elevar o espírito duma mulecada mal orientada. Oras, mas se isso é a TV tentando ser educativa, lucra-se mais com a sacanagem. É mais bem feita!

13 junho 2007

Movimentos Cotidianos

Estava outro dia no ônibus pensando em criar um movimento revolucionário a cada dia. Remédio para as reclamações de que não há mais "ismos" na atualidade.

Balela.

Há, por exemplo, o Malborismo: movimento que contesta o r perdido e impronunciável de Marlboro.

05 maio 2007

Vai não, é?

A proposta inicial era um espacinho de tiradas rápidas, mas as danadas não aparecem.

07 março 2007

O Melhor Quadro Para uma Bunda.

O Cheiro do Ralo, meus caros, lança-se como expressão do novo cinema independente brasileiro. Lembro de ter lido que o diretor Heitor Dhalia assumiu a influência dos independentes norte-americanos, os bons filhos de Sundance.

O indie movie brasileiro - segura os cabelos aí meu rapaz, indie aqui é só piada por associação - começa bem, hitchcockiando no clichê que passa pro lado do original: põe-se bem pertinho de uma bunda muito da boa.

E como aquela câmera gosta daquela bunda! Por pouco ela não rebola, e vai que saía bem. O roteiro segue então pela vida de um antiquário (Selton Melo) amargo e rabugento que só tem olhos, dois, pras duas graças rechonchudas da garçonete de um pé sujo onde lancha.

Mais um olho pra mirar o traseiro aparece em certo momento da história, só que este é de vidro. Comprado de um dos necessitados que vão ao escritório do protagonista, representa o momento culminante em que o antiquário perde o bom uso da razão. Aí o humor do filme fica ainda melhor.

Nos seus devaneios alucinados o personagem cria doutrinariamente uma mistureba cosmológica que envolve a já mencionada bunda, o olho, seu pai, o céu, o inferno e o ralo. Aí está o ralo.

Porque pior do que o fedor moforento das velharias que compra é o cheiro do ralo do banheiro do seu escritório. Você não o sente, óbvio, mas em sua obstinação doentia, Lourenço - dá-se logo o nome que já basta de procurar sinônimo - não o deixará se esquecer dele.

Já ia eu me enveredando por um recurso bem baixo da crítica cinematográfica: contar a história, tão somente. Vamos lá mudando o rumo.

A fotografia de o Cheiro do Ralo além de bela cai-lhe perfeitamente. Ali entre os cinzas e tons de marrom o ambiente tedioso e industrial marca a narrativa. Pode ficar a impressão de que a lanchonete, o escritório e a casa de Lourenço ficam todos dentro do mesmo galpão. Ora, o orçamento do filme é bem mixuruquinha, mas digamos que a vida insossa do protagonista permite esse recurso estilístico.

Talvez não permita tanto a montagem que abusa da repetição de planos gerais externos não muito diferentes organizados num ritmo pouco variado. Uma marquinha de pessoalidade: fosse na hora dos cortes finais ou ainda no roteiro, se tivessem decidido por tirar a cena final, eu ficava feliz. Só não explico a razão para angariar sua simpatia não contando como acaba o filme.

27 fevereiro 2007

Está

quase.
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