11 julho 2008

Joga a moeda do ônibus

Do outro lado da janela estavam duas crianças, sujas e mal vestidas, divertindo-se por entre as armações da construção da nova quadra da Vila Isabel.

É curioso este traço dos bairros da Zona Norte carioca, e que creio ocorrer em grau maior nos bairros mais afastados do Centro. Afora qualquer balela sobre democracia espacial, aquelas crianças brincavam e é quase certo que têm uma casa - talvez muitos metros de barro acima do nível do mar - e para ela voltarão, dormirão e gastarão o tempo do dia seguinte com sei lá o que.

Já a Zona Sul repele a pobreza. Lá há muito da miséria, mas uma miséria fantasmagórica. Espíritos que se arrastam clamando por dez centavos.

06 julho 2008

Tentativa Rapidácida de Introdução a uma Dissertação Universitária

Vivemos num tempo produtivamente e existencialmente complexo. Escreve-se, publica-se, desenha-se, edita-se, filma-se, grava-se, capta-se, digitaliza-se. Sem horizontes de satisfação, sem o vislumbre de um final.

A corrida tecnológica iniciada por vizinhos concorrentes cujo objetivo maior era a eliminação mútua, aumentou a um grau antes inconcebível quando transferida para a atividade puramente econômica que, no entanto, não exclui os "instintos assassinos".

O desenvolvimento da sociedade capitalista moderna parece basear-se na confusão por hiper-estímulo, pela imbricação de múltiplas narrativas em rede culminando na espetacular e inevitável marcha histórica do livre-consumo. Os soldados do futuro serão gordos, sofrerão de doenças degenerativas aos 15 anos, sentarão em sofás super macios feitos de materiais reciclados, e invadirão a Manchúria sacudindo um coração de plástico com a logo da Nintendo.

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